“Nesses três dias de evento, iremos reunir subsídios, informações, boas e más experiências dos nossos vizinhos da América do Sul e de países de outros continentes para a construção de uma política nacional de ordenamento dos recursos humanos e de educação continuada na área da saúde”. A afirmação foi do secretário Hélio Angotti Neto, na abertura do Seminário Internacional de Gestão da Educação e do Trabalho na Saúde, realizado de terça (27) a quinta-feira (29), no Instituto Serzedello Corrêa, em Brasília-DF.
Segundo o secretário, no Brasil já existem algumas ações voltadas para a temática, mas ainda há carência de uma visão ampla sobre uma política nacional. “Temos uma grande entrega a fazer nesse seminário: aprender, discutir, debater e buscar as melhores experiências da educação, da formação continuada e da gestão de recursos humanos em sistemas de saúde de vários lugares do mundo”, destacou.
O evento, realizado no formato híbrido – presencial e on-line (com transmissão ao vivo) – contou com a palestra de especialistas do Reino Unido, Canadá, Espanha, Chile, Colômbia e Uruguai, além da participação de representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), Ministérios da Saúde e da Educação, da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e do Conasems.
Quatro palestras foram proferidas no primeiro dia de evento, dentre elas, Experiências na Implantação de Políticas Públicas em Gestão de Recursos Humanos em Saúde, proferida pela consultora em Políticas e Gestão de Recursos Humanos em Saúde da OPAS/OMS, Isabel Duré, que explanou sobre a Argentina. “Um dos grandes desafios da Argentina e de vários outros países sul-americanos é a delimitação de carreiras, definir quais áreas/espaços requerem a formação técnica e quais requerem a formação de graduação. Reorientar o cenário da área da saúde requer uma visão social, política e cultural. A América do Sul, especialmente, precisa se atentar, com mais afinco, às questões que envolvem regulamentação das profissões e o planejamento da área da saúde”, pontuou.
Em seguida, as tendências do Reino Unido no âmbito da formação continuada em saúde e gestão de recursos humanos em saúde figuraram na palestra do diretor do Centre for Workforce
Intelligence European Health Future Forum, David Somekh. Segundo ele, “é importante destacar que os sistemas de saúde não são sustentáveis, o que acarreta complexidade na gerência e organização de uma rede de saúde, como é o caso do sistema de saúde brasileiro, um dos maiores do mundo. E um dos pontos-chave que pode melhorar, consideravelmente, essa situação é o planejamento da força de trabalho. No Reino Unido, estamos trabalhando para considerar as necessidades dos colaboradores, incluindo a programação de horários, o conjunto de habilidades, o treinamento e a satisfação com o trabalho. O intuito é que nossas ações possam maximizar a produtividade e a eficiência dos serviços de saúde”, salientou.
Na sequência, o mesmo tema foi abordado no âmbito do Canadá pela professora da School of Sociological and Anthropological Studies at the University of Ottawa, Ivy Lynn Bourgeault. “No Canadá, existe um esforço contínuo de profissionalização e direcionamento de carreiras que pode acontecer dentro da faculdade ou após esse período. Existe uma atenção especial em cursos de pós-graduação, eventos temáticos, grupos de estudo, palestras e outras iniciativas que possam desenvolver os potenciais dos profissionais da saúde. A formação continuada envolve o crescimento profissional, e também pessoal, em todas as fases na trajetória do indivíduo. É de extrema importância que a força de trabalho tenha oportunidades de educação continuada, em especial da rede pública de saúde, que inclui atenção as considerações de equidade, diversidade e inclusão”, acrescentou.
Mais três países figuraram no segundo dia de Seminário, repercutindo a temática da gestão de recursos humanos em saúde. Da Espanha, a conselheira da Subdireção-Geral de Coesão e Alta Inspeção do Sistema Nacional de Salud (SNS), Paloma Edurne Pizarro Ruiz, ressaltou que o sistema público de saúde de seu país é reconhecido como um dos melhores do mundo. “Isso muito se deve ao trabalho em conjunto do governo nacional com as comunidades autônomas. Ainda que existam estratégias nacionais na área da saúde, essas comunidades autônomas – na Espanha existem 17 entidades territoriais – são dotadas de autonomia legislativa e de competências executivas. Em termos de recursos humanos, as comunidades têm autonomia para investir e recrutar profissionais específicos, de acordo com as necessidades de cada comunidade. Com isso, ocorre um movimento de descentralização e regionalização da educação e do trabalho na saúde”, afirmou.
A chefe do Departamento de Estudos, Planejamento e Controle de Gestão da Divisão de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas do Ministério da Saúde do Chile, Claudia Godoy Cubillo, por sua vez, salientou que, nos últimos anos, seu país vem desenvolvendo um sistema que centraliza e agiliza a gestão de recursos humanos na saúde pública. “O governo investe fortemente em uma rede integrada. Sobre os recursos humanos, ampliamos o número de capacitações para diversas especialidades da área da saúde. Isso reflete numa maior eficiência e agilidade no trabalho dos profissionais, facilitando a definição de processos e apoio à tomada de decisões. Estamos trabalhando para melhorar, cada vez mais, a gestão das contratações, carreira profissional, política de remunerações, desempenho, formação e relações trabalhistas”, ressaltou.
Posteriormente, a diretora de Desenvolvimento do Talento Humano do Ministério da Saúde da Colômbia, Edilma Suarez, apresentou a reformulação do sistema de saúde que está acontecendo em seu país. “O objetivo é construirmos uma rede de saúde pública que garanta os direitos dos colombianos à saúde, determinando uma série de ações remediadoras ao Estado. Essas ações buscam contemplar a equidade entre a saúde pública e privada. Após um período de greves gerais e de gigantescas manifestações que unificaram diversos setores da saúde, do movimento social e da população em geral, estamos nos reorganizando e buscando iniciativas para melhorar o nível de educação técnica, o recrutamento de talentos humanos e a formalização dos trabalhadores da saúde”, esclareceu.
No último dia de evento, a decana da Faculdade de Enfermagem da Universidade da República do Uruguai, Mercedes Perez, palestrou sobre o atual cenário da área da saúde de seu país. “Em 2021, o atual governo assumiu a gestão do Chile – após 15 anos de governos progressistas. Essa mudança vem trazendo várias alterações no cenário da saúde do país, que também envolve a gestão da educação e do trabalho. Em meio a essa reorganização, o governo chileno busca elevar o tamanho da população, facilitando a entrada de estrangeiros e aumentando a demanda do sistema de saúde. Esse aumento da população resulta em uma maior preocupação no âmbito dos serviços e de recursos humanos. As entidades de saúde públicas e privadas do país estão integradas no diálogo sobre a necessidade de uma política de recursos humanos que leve em conta a situação atual, além de suprir as novas necessidades”, declarou.
No encerramento, o secretário Hélio Angotti Neto falou sobre as perspectivas e os desafios para uma nova política de gestão da educação e dos recursos humanos em saúde no Brasil. “Nós observamos as dificuldades, os desafios, as ferramentas utilizadas por outros países e a visão de agentes importantes do nosso próprio país”, afirmou, ressaltando que o Seminário deixa lições, como a necessidade, por exemplo, de transparência e integridade dos dados, que precisam ser abertos à sociedade, e esta necessita entender como a educação e a saúde interagem. À tarde, técnicos da SGTES se reuniram para consolidar um documento sobre o Seminário, com subsídios que nortearão diretrizes para a nova política.
Publicado em: 10/10/2022; Fonte: NUCEC/SGTES/MS.
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